CUPUAÇU E BURITI PODEM EVITAR CÂNCER DE PELE "Cupuaçu pode originar filtro solar para prevenir câncer de pele" Tião Maia (*)
Um filtro solar à base de óleo
extraído da fruta do buriti ou da gordura da semente do cupuaçu deverá
ser desenvolvido pela Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) em
parceria coma Vita Derm para ajudar no combate e na prevenção ao câncer
de pele. Empresa brasileira especializada na fabricação de produtos de
beleza e estética, a Vita Derm deverá se aliar ao governo do estado,
através da fundação de tecnologia, na luta contra o câncer de pele,
responsável por 6% dos casos de câncer no Brasil.
O projeto é de autoria da Funtac e
apoiado pelo médico e senador Tião Viana (PT-AC), articulador do
envolvimento da Vita Derm com as pesquisas. O projeto está orçado em R$
320 mil, patrocinado pela própria Vita Derm, e deverá estar concluído
dentro de um ano. O novo produto deverá ser distribuído inclusive pelo
SUS (Sistema Único de Saúde) às pessoas com propensão a desenvolver o
câncer de pele. O senador destacou que o projeto é importante porque é
vinculado à idéia de sustentabilidade e preservação da Amazônia, "com a
floresta produzindo riquezas e benefícios à humanidade sem ser
destruída".
Foi Tião Viana quem conseguiu envolver a
Vita Derm com o projeto. A seu convite, o fundador da empresa, Marcelo
Schulman, chega a Rio Branco nesta sexta-feira e à noite deverá fazer
palestra ao empresariado local, na sede da Federação das Indústrias do
Acre (Fieac), sobre sua experiência de industrial cuja atividade começou
em 1984, no interior de uma pequena farmácia de manipulação e hoje
possui uma indústria de 10 mil metros quadrados, com capacidade de
produção de 600 mil unidades por mês. A Vita Derm também está se
preparando para investir R$ 30 milhões na construção de mais quatro
fábricas no país, uma delas na Amazônia, para aproveitar produtos
naturais da região, os fármacos e fitoterápicos.
O empresário também deverá falar sobre o
potencial dos cosméticos na economia e sobre a importância do
componente natural e amazônico neste segmento cada vez mais crescente da
indústria brasileira e mundial. É cada vez mais crescente o número de
pesquisas que apontam a importância de fitocosméticos extraídos de
produtos naturais encontrados apenas na Amazônia no auxilio e combate a
vários fatores de riscos para determinadas doenças. Schulman deverá
conhecer a área de pesquisas da Funtac, no Distrito Industrial. A idéia é
fazer com que a fundação de pesquisas do governo do Acre possa vir a
ser parceira do empresário na montagem, no Acre, de um projeto de
aproveitamento das essências de fitoterápicos e fármacos amazônicos na
indústria da beleza, da estética e saúde.
O desafio à Funtac para que
desenvolvesse pesquisas no setor também partiu de Tião Viana, após
ouvir, em suas andanças pelo Acre, reclamações de boa parte da população
em relação à falta de apoio do sistema de saúde pública para a
prevenção ao câncer de pele. Uma dessas reclamações partiu de um pequeno
produtor de leite de Plácido de Castro, Geraldo Ribeiro, que pediu ao
senador que intercedesse em Brasília para que o SUS (Sistema Único de
Saúde) também contemplasse as pessoas com pré-disposição de desenvolver
câncer de pele - como é o seu caso - com a distribuição do filtro solar.
"O filtro solar é muito caro, senador. O SUS bem que poderia distribuir
isso para a gente", pediu Ribeiro, com o que Tião Viana concordou
plenamente.
O SUS (Sistema Único de Saúde) dispõe de
tratamento medicamentoso para pacientes portadores de câncer de pele,
mas a medicação não inclui o filtro solar, produto de extrema
necessidade e custo elevado. "Quando o produto estiver pronto e sendo
adquirido pelo SUS, inclusive a preço de fábrica, poderá ser
perfeitamente distribuído para as pessoas que precisam, principalmente
para os trabalhadores que são obrigados a se exporem ao sol sem a devida
proteção" disse o senador.
O envolvimento da Vita Derm com o
projeto é importante porque esta empresa, com sede em São Paulo,
distribui seus produtos em mais de 350 localidades de todo o Brasil e
também os exporta para países da Europa e da África. Além disso, em dois
anos consecutivos, a empresa foi eleita pela revista Pequenas Empresas,
Grandes Negócios uma das melhores franquias do Brasil.
"Depois da fábrica de camisinhas em
Xapuri, estou convicta de que temos condições de irmos muito mais
adiante", disse a engenheira florestal Tânia Guimarães, dirigente da
Funtac, ao anunciar que a instituição tem amplas condições de aprofundar
as pesquisas nesta área. O projeto vem sendo coordenado pela
farmacêutica Sílvia Luciane Basso, gerente de projetos naturais da
Funtac. De acordo com a pesquisadora, "para os moradores da Amazônia, a
utilização de filtros de proteção solar é um fator necessário devido à
alta temperatura e a exposição a altas doses de radiações ultravioleta e
infravermelho". Nos casos de pacientes que desenvolvem ou apresentam
pré-disposição em desenvolver câncer de pele, essa exposição pode ser
letal.
De acordo com estudos desenvolvidos pelo
projeto, há dez anos as estatísticas mostravam que, para cada 80 casos
de câncer, apenas um era diagnosticado como de pele. O número se tornou
ameaçador: agora, para cada 17 casos, um é de câncer de pele. No Brasil,
o câncer de pele ainda detém uma das maiores taxas do mundo,
correspondendo a 25% de todos os casos diagnosticados no país. A
radiação ultravioleta natural, proveniente do sol, é o maior agente
etiológico da doença.
Segundo o projeto desenvolvido por
Sílvia Basso, para atender a população acreana que necessita de filtro
solar como complemento a um tratamento médico específico, seria
necessário ao desenvolvimento de uma loção hidratante com um aditivo
vegetal amazônico e ecologicamente correto. A manteiga de cupuaçu e o
óleo do buriti têm propriedades hidratantes em especial para peles
sensíveis, com alto índice de vitaminas A e D, o que permitirá a
incorporação de um FPS - Fator de Proteção Solar - ideal para este tipo
de paciente.
Funtac informa que pesquisas estão adiantadas
Segundo o presidente da Funtac, César
Dotto, à instituição, através de seu laboratório de produtos naturais,
caberá a realização do controle de qualidade de matéria prima e o
desenvolvimento de produtos fitocosméticos ou fitoterápicos. A manteiga
de cupuaçu a ser estudada será da comunidade do Projeto Reca, na BR-364,
e o óleo de buriti virá da região do Vale do Juruá.
De acordo com os técnicos da Funtac,
nesta primeira fase, será feita uma avaliação físioquímica e
crematográfica para a identificação de uma das duas matérias-primas
estudadas. A partir daí, será então desenvolvida a loção básica
acrescentada do aditivo escolhido, em três diferentes concentrações,
para facilitar a incorporação do fator de proteção solar.
Definida e estabilizada a loção base,
será incorporado um fator de proteção solar com a concentração adequada
segundo a resolução 237 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária). Após esta fase, serão produzidos três lotes distintos de 50
unidades cada, com os quais serão realizados o controle de qualidade do
produto final e os testes microbiológicos.
A Anvisa exige que uma empresa da área,
devidamente cadastrada pelo setor competente, terceirize e se
responsabilize pelos testes. Vencida todas essas etapas, será realizada
uma loção hidratante com fator de proteção solar com a condição ideal
para a obtenção de registro junto a Anvisa e produção em larga escala.
"Se tudo correr bem, é algo para muito próximo", previu César Dotto.
Na Funtac, também estão em fase de
estudos um sabonete natural à base do melão-de-são-caetano para
escabiose - também conhecida como sarna norueguesa, doença de pele
contagiosa transmitida pelo contato direto entre pessoas - e um xampu de
andiroba destinado ao combate à pediculose, doença provocada pela
infestação de piolhos.
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